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Da série: Pioneiras/Cabeleireiras/Empreendedoras

Arnilda plena, em seu book do 40 anos, feito pelo Rudi Bodanese.

No dia em que estive na casa da Arnilda ela me esperou com a água quente para eu decidir se queria tomar café ou chimarrão… Optamos pelo mate! E ali ela começou a me contar sua história.  E tentar resumir essa história tão rica, não será tarefa fácil para mim! Sempre elegante, simpática e moderna, mulher à frente do seu tempo com certeza. A cabelereira que foi pioneira, que rompeu preconceitos, que abriu portas para muitos que vieram depois dela, trabalha até hoje em seu salão atendendo eventualmente algumas clientes que querem ser atendidas por “Arnilda”.  E ali eu fiquei por algumas horas viajando no tempo, relembrando momentos da história da cidade e me inspirando para tentar ser uma mulher ousada como Arnilda foi e é.

 

Arnilda nasceu em 1943, filha de Celestino (madeireiro) e Amabile (costureira) e faz parte de uma família de 6 irmãos. Ela começou a me contar sua história depois que perguntei o porque ela decidiu ser cabeleireira… E ela me disse: eu não gostava de escola, mas eu gostava de dinheiro (rsrs), então para conseguir uma renda ela e outros dois irmãos queimavam nó de pinho para vender como carvão para os ferros de passar roupa da época, além de vender ovos em cestinhas de lata feitas por eles mesmos. Além disso, ajudava a sua mãe comprando aviamento na rua e foi numa dessas saídas para comprar aviamento que ela ficou sabendo que havia uma cabeleireira de fora da cidade. Então ao invés de fazer a compra dos aviamentos para a mãe ela foi lá para ver o trabalho dessa cabeleireira e passou horas admirada com o trabalho e com o resultado final nos cabelos. Nesse dia conta que levou uma bronca da mãe!

Com o marido Adelar e o hobby preferido dos dois: pescar!

Então ela chegou em casa e falou para a mãe que queria trabalhar em um “instituto” (isso com 11 anos!) e a partir daí começou a fazer unhas e logo aprendeu a cortar cabelos (sua mãe era quem recebia o salário por ela). Além do emprego, ela passou a trabalhar por conta fazendo unhas e cabelos nas casas de amigas. Guardava esse dinheiro e pedia para uma amiga que sempre viajava para comprar produtos diferentes para atender suas clientes. Acabou percebendo que ela ganhava mais trabalhando sozinha e, conversando com a mãe, decidiu abrir um salão por conta própria em uma sala alugada.

Com a nora e filha do coração, Geni e a filha Tania.

Fez economia, comprou móveis de salão usados, mas… faltava o lavatório. Nessa época já era casada com Adelar Antoniazzi que era caminhoneiro e trouxe seu lavatório de outra cidade, além disso ele também trazia produtos diferentes e a cada produto novo que chegava, novas propagandas agora com tinturas, esmaltes, maquiagens e descolorante. Descolorante de cabelo naquela época era um produto que ela nunca tinha ouvido falar então fez a encomenda de uma pequena quantidade e fazia os testes nos cabelos que sobravam dos cortes. E a cada teste ela via que cada cabelo tinha um resultado diferente. Depois dos testes começou a aplicar nas clientes e: Sucesso Total!

Para crescer profissionalmente um dos maiores desafios enfrentados na época foi ter saído de Pato Branco sozinha para fazer um curso em Curitiba (naquela época mulher era criada para cuidar do marido, casa e filhos) sofreu muito preconceito e não teve o apoio de ninguém, nem mesmo do seu marido. Nesse curso ela conheceu muitas profissionais renomadas e que trocaram muitas informações. Descobriu novas marcas de produtos que tinham excelência e qualidade e aproveitando a viagem fez algumas compras para trazer para suas clientes e ainda aproveitou o tempo e a viagem para fazer dois cursos simultâneos para aprender a usar os produtos.

E assim Arnilda foi construindo sua história: em 1961 nascia sua primeira filha, Tania, em 63 seu filho Jader e em 68 seu filho Charles.

Arnilda com os filhos: Tania, Jader e Charles.

Nesta época era moda a peruca! E ela aprendeu a fazer, e tinha muitos pedidos, então, fez parcerias com mais de 20 pessoas para tecer, e era ela quem montava as perucas. Aprendeu também a fazer cílios postiços, que usava todos os dias com maquiagem, seu lema também era e é: Se estou vendendo beleza, devo dar exemplo.”

“As vendas vinham aumentado muito, o valor das perucas era alto então eu fiz carnê para as clientes e com isso senti a necessidade de ter CNPJ, pois assim eu poderia descontar as prestações no Banco do Brasil. Com empresa aberta, pude comprar produtos diretos na distribuidora e abri vendas de confecções e bijuterias. E deu certo.” Relembra.

Então em 1969 ela fez seu primeiro curso profissionalizante com uma marca famosa, que usam até hoje. “Sempre fazia cursos de reciclagem, atualização, workshops. Na área de beleza, ou em qualquer segmento que atuamos é imprescindível ficar atualizada. Meu objetivo é ter produtos bons, boas marcas.”

A equipe de trabalhadoras estava crescendo: vinham maquiadores de marcas reconhecidas internacionalmente dar curso de maquiagens, análise de peles, etc. Assim como os técnicos dos produtos que usavam nos cabelos.

De repente uma empresa de famosa marca lançou uma ampola para deixar o cabelo liso e então a moda mudou para o liso total! Arnilda conta que usou tanto este produto que ganhou uma viagem de 8 dias à Paris, no Centro Técnico da referida marca, com a viagem e estadia pagas pela marca. “Mas tínhamos 3 filhos pequenos, marido machão, não me deixou ir, foi minha maior frustração, mas segui em frente, respeitando e amando meu trabalho.”

Diversão com a família no trabalho. Foto: Rudi Bodanese.

No começo dos anos 70 o Lions Club começou a promover o Miss Pato Branco, como era um evento beneficente ela atendia de graça todas as candidatas e também para outros tantos concursos na cidade contribuiu gratuitamente.

Com todo esse envolvimento na cidade sua clientela só foi aumentando e a  sala ficou pequena. Foi então que ela decidiu alugar uma sala grande com vitrines para expor os produtos, perucas e etc.

Mas antes disso, comprou um “fusca” com o nome de Tampinha, não sabia dirigir, aprendeu com seu irmão.  “Quando meu marido viu o fusca na garagem quis me matar, brigou, mas estava no meu nome, vendi e tive um lucro. Aumentei a equipe de trabalho com o lema: Amar e respeitar. Como uma família do bem querer”.

Com esse crescimento em 1975, sentiu a necessidade de ajuda para a organização, e o SEBRAE entrou em sua vida (até hoje ela fala muito do Sebrae). “Alteramos o nome da empresa para Blue Star, achei muito chique, Estrela Azul. Minha meta era construir algo maior, e então comecei a pagar 2 consórcios. Com estes, comprei um fusca, e um ponto de táxi, coloquei um motorista para trabalhar, enquanto sonhava com o dia que o meu marido deixasse os fretes com o caminhão. Eu queria ele junto da gente.”

Uma mulher a frente do seu tempo. Editorial de moda na Revista Vanilla, produzida por Gilbert Antonio. Foto: Helmuth Kuhl.

Seus sonhos foram se realizando, deu um lance no segundo consórcio, tirou uma Belina 0 km e 3 meses depois deu o carro na compra do terreno para construir um edifício de 4 andares. “Acabamos fazendo dois pisos e fizemos financiamento, aproveitei desconto, e quitei o saldo. Salão grande, com sauna, massagem, depilação, penteados, cortes, químicas, sucesso total, empresa bonita: Meu Deus, não pedi tanto. Como Ele é bom”.

Nos anos 90 Arnilda deu “um tempo” no salão e na sua profissão e foi morar na praia com seu marido, como o seu maior hobby é pescar a mudança para praia só foi aceita sob uma condição: que ele a ensinasse a pescar no mar e assim aconteceu. Ficaram quase 10 anos morando na praia, sempre entre idas e vindas a Pato Branco até o dia em que resolveram volta para cá. Hoje ela tem um sítio próximo à cidade onde pode se divertir entre sua horta e sua pesca. Arnilda também já participou de várias viagens para fazer pesca esportiva, um esporte até então dominado pelos homens.

Pescando no mar.

Hoje o salão tem clientes que já são da quarta geração da mesma família. “Tive colaboradoras que trabalharam comigo de 10 a 18 anos, que saíram para casar ou montar seus próprios negócios. Meu lema como empresária sempre foi: pagar primeiro as colaboradoras e depois os títulos. Nada mais justo, tanto que nunca tive ações trabalhistas.”

Arnilda também foi professora: ministrou muitos cursos de aperfeiçoamento para cabeleireiros no Senac de Pato Branco. Foi fundadora da APAE da nossa cidade, presidente de 2008 a 2013 e conselheira regional de 2006 a 2011.

Foto Rudi Bodanese.

Atualmente Arnilda delegou o salão para a família continuar o seu trabalho e seu legado. A filha Tania se especializou em maquiagem e estética facial, enquanto sua nora Geni cuida do salão com simpatia e competência. Arnilda ensinou a elas a importância de ter objetivos claros e visão de futuro. Mesmo um pouco afastada do dia a dia do salão ela continua trabalhando, pois faz o que gosta.

“A você, jovem empreendedora, que está iniciando um negócio ou empreendimento: respeitar, ser humilde, estudar, calcular, pensamento positivo, coragem, dedicação, trabalhe com amor o que estiver fazendo.”

“Hoje meus sonhos, um a um, estão sendo realizados e três vezes mais do que eu sonhava ou imaginava. Meu hobby pescar e viajar. Hoje me sinto realizada e feliz por ter plantado boas sementes.” Finaliza a grande Arnilda.

 

8 comentários em “Da série: Pioneiras/Cabeleireiras/Empreendedoras

  1. Lindooooo. Amo essa mulher. Uma guerreira e principalmente uma pessoa do bem. Não tem firulas é direta e amorosa nas suas falas. Arnilda voce é uma das minhas “idalas” .
    Lu gratidão por esse post, ficou lindo.

  2. Sensacional , Mulher de fibra, vencedora exemplo a ser seguido , ninguém a segura , sou honrado de ser amigo dela e seus filhos !!!

  3. Tive a oportunidade de conhecê-la. Sem sequer saber da sua trajetória profissional ja a admirei MUITO. Hoje lendo um pouco da sua história. Posso afirmar que ela é um exemplo a ser seguido! Sucesso SEMPRE! Inspiração para TODOS!

  4. Nha!
    Voce e uma pessoa muito especial ! Tenho voce no meu coracao. Sempre pra frente, enfrentando problemas os quais tira de letra e sobram solucoes. Com carinho e afeto
    Dunya

  5. Oi Arnilda você é maravilhosa !
    Exemplo de pessoa !
    Só temos que agradecer toda disponibilidade para mim e minhas filhas sempre presente em todos os nossos melhores momentos de festas que tivemos ! Vim pro Paraná início de 1970 e conheci seu trabalho e estamos juntos até hoje ! Obrigada!

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