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Da Série: Nutricionistas/Professoras/Lindas Mulheres!

O domingo de hoje traz a história de uma menina guerreira, que mesmo diante de dificuldades não desistiu do seu sonho de ser uma profissional graduada na área da Nutrição, então se dedicou tanto que hoje já está no último semestre do seu Doutorado… Conheço a Indy desde os tempos de escola e mesmo não tendo muita convivência e intimidade sempre me identifiquei com ela porque sempre teve um sorriso sincero no rosto… Anos mais tarde a gente se esbarrava por aí nas festas de Pato Branco da “nossa época”. Hoje quando acompanho sua vida pelas redes sociais vejo uma profissional excelente, professora dedicada do curso de Nutrição, e uma pessoa amada por todos com quem convive. Conheçam hoje um pouco da história de vida da Indiomara Baratto, Nutricionista e Professora da Fadep. O relato é intenso e verdadeiro, mostrando que para que possamos alcançar nossos objetivos a estrada nem sempre é suave…

Indiomara  Baratto nasceu em 10 de março de 1980 em Pato Branco e é filha de Dionísio e Juraci Baratto. Sempre gosto de abordar a vida dos “meus entrevistados” desde a infância, porque assim posso fazer um apanhado histórico que mostra de onde realmente a pessoa veio e como a infância e adolescência podem ser importantes para ajudar as pessoas ultrapassarem obstáculos e aprender com as diferenças. Agora você fica com a história de vida da Indy com todos os detalhes possíveis…

“Normalmente associamos a infância a brincadeiras e amigos, minha infância não foi diferente, como cresci em Pato Branco, uma cidade na época pequena e segura, a minha infância foi marcada por brincadeiras na rua e muitos amigos, sempre fui uma criança mais quieta, pouco sapeca e muito mais estudiosa do que brincalhona.

Lembro-me que as brincadeiras de rua eram parte do dia a dia, pular corda, elástico, caçador, amarelinha, bets e tantas outras brincadeiras fizeram parte da minha infância, além é claro de brincar de fugir de casa (risos) e de boneca. Minha infância foi marcada também pelo vôlei, era um esporte que eu amava além de jogar bocha, meu pai sempre jogou e me levou ainda muito nova para aprender, e durante muitos anos fiz parte do time da cidade e do estado do Paraná, indo vários anos para competições nacionais. Fui convidada aos 13 anos para ir morar no Rio de Janeiro e jogar bocha para um dos times da cidade, mas meu pai não permitiu.

Apesar de adorar ir para escola durante a infância, tiveram alguns períodos muito difíceis de convivência com alguns colegas de turma, hoje sabemos o que significa bullying, mas na época, apenas guardava para mim, sem conseguir entender ao certo porque aquilo acontecia. Sempre tive muitas sardas, principalmente no rosto, e meus colegas me chamavam de ferrugem, enferrujada,  pintada, estragada… e vários outros “apelidos” (risos), isso era algo que me incomodava muito, nunca contei a ninguém da minha família (agora eles vão saber), porque tinha muito receio que me tirassem da escola e nunca sequer imaginei deixar de ir estudar, mesmo passando por tal constrangimento.”

Eu me formei Nutricionista e atualmente sou docente no curso de nutrição e de gastronomia da FADEP, mas desde muito cedo meu único e maior sonho era ser Médica Veterinária, porque sempre tive muito amor e compaixão por qualquer tipo de animal, quando jovem, todos os animais que encontrava na rua, trazia para casa, mas conforme o tempo foi passando e eu fui tendo um maior conhecimento de mim mesma, vi que jamais conseguiria alcançar este desejo, porque me sentia frágil demais para poder ajudar ou salvar a vida de um animal.

Então passei a desejar ser médica, porque todos meus desejos acabavam se resumindo a buscar uma profissão em que eu pudesse ajudar o próximo através da saúde, mas como minha família não tinha condições financeiras para me manter fora de Pato Branco, seja para estudar em uma Universidade pública ou paga, eu acabei ainda que frustrada buscando outros caminhos e foi ai que surgiu a nutrição.

Apaixonei-me pela nutrição quando a mídia começou a indicar cada vez mais que existia uma relação na ingestão dos alimentos com a saúde, com a qualidade e a perspectiva de vida das pessoas, então não tive dúvidas que era aquilo que queria para minha vida, ajudar as pessoas através dos alimentos. Comecei estudar e passei no vestibular para Nutrição na cidade de Guarapuava-PR, fui estudar na Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO).  Como minha irmã morava lá, os gastos seriam menores, porque além da Universidade ser pública eu não teria gastos com aluguel, poderia morar com ela. Então fui embora de Pato Branco para poder me graduar, acabei a graduação em 2005 e em 2006 já estava fazendo especialização em Nutrição clínica na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba. Acabei ficando 16 anos fora de Pato Branco para onde retornei no início de 2015 e desde então sou docente na Faculdade de Pato Branco (FADEP).

Acho que jamais desistir dos seus sonhos é algo tão clichê, mas tão inspirador ao mesmo tempo, eu sempre quis muito estudar, não só fazer graduação, eu sempre desejei ir além…

Tenho lembranças durante a faculdade (e se minhas amigas lerem isto, elas vão lembrar também e dar boas risadas) de dias que tinha que decidir se iria comer bem ou tirar xerox (risos), nunca passei fome claro, mas tinha que optar sempre por coisas menos onerosas para poder conseguir estudar… o dinheiro era contado para passar o mês. Um dos maiores desafios que enfrentei ao longo da vida foi ir embora de Pato Branco, ser responsável por tudo e ficar longe da família, principalmente da minha mãe, foi muito difícil. Lembro que sofri, muito.

Depois da minha graduação eu iniciei minha vida profissional trabalhando em unidades de alimentação e nutrição que serviam refeições para presídios, em outra cidade, fora de Guarapuava, mas longe de Pato Branco, graduei e não voltei embora, trabalhava aos finais de semana, logo fui chamada por uma professora para trabalhar com ela em um hospital na cidade de Guarapuava e algum tempo depois já estava também dando aulas para o curso de nutrição na mesma Universidade em que me graduei, durante todos estes anos que morei em Guarapuava, sempre vinha a Pato Branco buscar um trabalho, mas nunca tive uma oportunidade.

Depois de 4 anos de trabalho como docente na UNICENTRO, surgiu a pressão, é claro, como educadora, era preciso fazer um mestrado, ou não conseguiria ir muito longe nesta área, não poderia continuar na vida acadêmica sem me especializar. Mais uma vez, não tinha condições financeiras para pagar, então teria que estudar em um programa de mestrado em uma Universidade pública. Foi quando resolvi ir embora para São Paulo, lá passei em um programa na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – Escola paulista de medicina (EPM), aonde frequento até hoje, concluí o mestrado em 2014.

Morei 6 anos em SP e foram anos muito difíceis, estar ainda mais longe da família, vê-los apenas três ou no máximo quatro vezes por ano e estar praticamente sozinha em uma cidade como aquela foi muito assustador no começo, sofri, muito, de novo. Engordei 20 Kg nos dois primeiros anos que estava morando lá e entrei em um estado profundo de depressão, foi quando o Guri (meu cachorro) surgiu na minha vida, foi ele em partes que deu um novo brilho e alegria para meus dias, se tornou meu companheiro de todas as horas e momentos…

Terminei meu mestrado, o doutorado não era um sonho, mas acabei nem tendo descanso,  na outra semana entrei direto para o programa de doutorado.

Com o tempo aprendi que São Paulo além de ser uma cidade incrível, nos amadurece e principalmente nos torna independentes, mas acima de tudo, São Paulo nos ensina diferentes valores. Em São Paulo você aprende a fazer refeições sozinho, a falar consigo mesmo, a ir ao cinema e ao parque sozinho, em São Paulo não importa quem você é, qual seu sobrenome, a qual família pertence (coisas muito comuns e de valores em cidades pequenas), não importa como esta vestido, se sua roupa é de marca ou se você é pobre ou rico, eu amava isso em São Paulo, ser apenas mais uma no meio da multidão.

Mas apesar de aos poucos aprender a amar São Paulo, decidi em 2015 que era hora de voltar para Pato Branco, foi depois de receber um convite da FADEP, que tomei a decisão, como já estava no programa de doutorado, dei sequência, indo todas as semanas de Pato Branco para São Paulo, o que se tornou muito desgastante, não só pelo físico, mas principalmente pelo emocional, durante mais de um ano, desenvolvi crises alérgicas graves na pele,  entrava no ônibus e chegava em São Paulo muito mal, mais uma vez não pensei em desistir, e  entrei agora no meu último semestre do doutorado, até final de 2018 devo defender minha tese.

Hoje vejo que apesar de não ter uma vida de regalias ou facilidades, mesmo morando no interior, reconheço o quanto todos os meus esforços valeram a pena, me sinto privilegiada por poder ter estudado durante toda a minha vida em escolas públicas, e depois me pós graduar também em uma Universidade pública, bem conceituada e reconhecida mundialmente. Parece um sonho, mas foi real.

No meio destes longos anos fora de Pato Branco eu estive em duas ações com o ministério da defesa, indo atuar por longos dias em comunidades carentes, desprovidas de recursos, de facilidades e de tecnologias. Fui para o sertão do centro-oeste e para o interior do nordeste, duas experiências que me trouxeram tanto aprendizado sobre a vida, sobre valores, sobre compaixão, sobre gratidão e sobre Deus. O que me tornou uma pessoa mais leve e menos egoísta, mais concentrada e menos pavorosa, mais calma e menos hiperativa. Dar amor, levar saúde e conhecimento é tão, tão gratificante que todas as pessoas deveriam um dia experimentar.

Um dos meus maiores objetivos com ser humano é ser uma pessoa melhor a cada dia, na questão espiritual principalmente, ajudar o próximo, buscar ser uma docente e nutricionista cada vez mais preparada e dar o máximo do meu conhecimento aos meus alunos. Como profissional pretendo voltar a atuar na área clínica quando terminar o doutorado focando meus atendimentos na área gestacional e esportiva.

Eu amo ler, apesar de que nos últimos tempos não tenho tido muito tempo para isto, mas a leitura é algo que melhora muito nossa capacidade de foco e concentração, então eu sempre digo para as pessoas que a leitura nos engrandece e nos deixa ainda mais preparados para as tarefas do dia a dia. Quando consigo, minhas leituras fogem do que eu estou habituada, ou seja, são temas diferentes de alimentos e saúde, busco temas que não tenho muito conhecimento e que me chamam atenção.

 

Adoro cozinhar, minha mãe nunca me ensinou, porque o maior desejo dela era que a gente estudasse, aprendi algumas técnicas de cocção durante minha graduação, mas quando fui morar sozinha descobri que cozinhar me dava calma, me tirava do estresse do dia a dia e sentia o quanto aquilo era prazeroso, acabei me apaixonando. Cozinhar é uma arte, mistura sentimentos, emoções, inteligência para criar, cores, sabores e satisfação. Sempre que posso estou na cozinha.

Hoje o meu maior hobby é a prática do MMT (Mixed Modalities Training), popularmente conhecido como CrossFit, que é na verdade um tipo de treinamento de modalidades mistas. Comecei na Cross Pato indo duas vezes por semana, logo comecei a ir três vezes e hoje vou todos os dias, quando estou em Pato Branco. Divido meus dias entre a prática do MMT e do LPO (levantamento de peso olímpico), que é uma grande paixão, não existe sensação melhor. O MMT  foi aonde me encontrei, aonde encontro paz, bem-estar, leveza e sou desafiada a todo o tempo por mim mesma. Encontrei na prática regular do exercício físico algo muito além de saúde, mas algo que me realiza, não consigo ficar sem. Então se tornou um hobby. Costumo dizer para as pessoas que não gostam de fazer exercícios físicos, que eles apenas não encontraram ainda uma modalidade que eles realmente gostem, porque é impossível não gostar de algo que só lhe da benefícios e sensações de bem-estar.

Quando meu perguntam sobre quais são os meus sonhos… eu como boa pisciana eu tenho vários (risos) …

Gostaria muito de fazer o Pós Doutorado, mas resolvi adiar um pouco esta parte da minha vida, como nossa cidade fica localizada muito longe dos grandes centros, estar sempre na estrada é muito desgastante e confesso que preciso descansar um pouco, mas não vou desistir não, eu acho muito gratificante poder trabalhar com pesquisa, mesmo em nosso país, onde os recursos são escassos e o reconhecimento limitado, trabalhar com pesquisa é trabalhar com descobertas e isso é incrível.

Tenho um sonho muito antigo que é de algum dia abrir meu próprio negócio, claro voltado a alimentação saudável e poder trabalhar com minha mãe, que faz coisas deliciosas na cozinha.

Desde sempre eu me imagino fazendo trabalho voluntário em outro país. É um sonho que um dia pretendo realizar também, dar amor e conhecimento a quem realmente precisa é mais valioso do que receber.

Um sonho muito pessoal é me tornar vegana, tentei algumas vezes a transição para o vegetarianismo, não tive muito sucesso, mas é um longo caminho que pretendo a cada dia vencer um obstáculo.

E acho que como todos nós, meu sonho é de que um dia a maldade a violência e o egoísmo humano deixem de existir, não apenas entre nós seres humanos, mas também com os animais. Compaixão sempre e com todos os seres vivos é um desejo muito grande dentro de mim.

 

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